Tuas... minhas palavras...

há momentos durante a noite em que a alma se liberta
do corpo. há momentos de escape. há momentos em
que procuramos a parte que nos falta obrigatóriamente.
procuramos nas esquinas e nos cruzamentos.

nesses momentos corre por nós o pânico. a busca
nocturna é infindável. e os fantasmas caminham
connosco. quando nos tocam sentimos apenas o
suave calafrio. fugimos e escondemos-nos. separados.

não sei da minha matéria. sei que já não está aqui. e
sobre o efeito de éter saboreio esta experiência.
movimentos involuntários extra corporais tomam a
forma de estranheza. distanciamento. comiseravelmente
perdem-se os sentidos e as emoções.

saudades tenho da minha completariedade. e cansa-me
perder-me sempre em mim. cada vez mais. perco mais
tempo a tentar encontrar-me do que a viver. e só
encontro metades de metades de pedaços de pedaços de
mim.

consigo ouvir meus passos sem os dar. quando saem
palavras da minha boca não sou eu quem as diz. o meu
sangue não é meu. o que é meu é o vazio...
a apatia passiva introvertida. quando me espancam nada
sinto. quando não estou cá sou pedra e pós latejantes e
imóveis.

Gummy